99 Segundos

Nota introdutória – Este artigo foi elaborado antes da segunda parte jogo entre o Estoril e o FC Porto, pelo que não são tidos em conta os erros de arbitragem desse encontro.

Uma das grandes vantagens da matemática é que não existe lugar à discussão. Tudo é aquilo que é. Negar um princípio matemático implicaria certamente que a pessoa entrasse em contradição lógica. Os juízos matemáticos são universais e necessários, todos são levados a aceitá-los.



Esta universalidade e necessidade revela-se quer ao nível dos juízos teoricamente mais difíceis, como por exemplo: 2xy + 2y = 2y(x + 1), quer ao nível dos mais básicos, que qualquer aluno da primária sabe de cor. Exemplo disso é o conhecimento dos números até 10. Não cabe na cabeça de ninguém afirmar que 10 é menor que 3. E até parece algo ridículo que, alguém que passou pela escolaridade obrigatória, afirme tal falácia.



Contudo, esta semana, um destes erros ridículos de matemática foi cometido. Aparentemente, para algumas pessoas, 4 é maior que 5. Só isso explica que o jogo Tondela x Sporting CP tenha tido 4 minutos de compensação e 5 de extra compensação. Quem diria que, ao nível da primeira liga, existiam pessoas que consideram que 4 é maior que 5? Esta parece-me ser a única justificação plausível para o que aconteceu e que não põe em causa a idoneidade do árbitro João Capela.



Fosse só isso e o erro passava por entre os pingos da chuva. O problema é que não foi só isso. Passo a sintetizar os quatro pecados capitais da compensação do Tondela x Sporting CP:



1. 21 segundos que passam a 120 – A 21 segundos do fim do tempo de compensação dado por João Capela, um jogador do Tondela cai no chão. Ou seja, faltavam jogar 21 segundos (não confundir com 21 minutos, nem com 21 horas). Quando o jogador acaba de ser assistido, retoma-se o jogo. Quanto tempo faltava para acabar o jogo? Exatamente. 21 segundos. Ora, Jorge Jesus jura a pés juntos que, nesse momento, João Capela disse que ainda ia dar mais 3 minutos (que depois afinal eram 2). Dois minutos, 120 segundos. Mais 99 segundos do que aqueles que efetivamente faltavam. Porquê estes 99 segundos extra?



2. O Antijogo que afinal já não o era – Quer-me parecer que o Presidente do Tondela não gosta de rituais satânicos nem masoquistas, pelo que as imagens que mostrou na Conferência de Imprensa eram verdadeiras. William Carvalho entra com a chuteira no jogador do Tondela Bruno Monteiro que, vá la saber-se porquê, não é de ferro e cai no chão. Como reage João Capela a este lance? Acrescenta 90 segundos aos 21 que ainda faltava jogar. E falta a favor do Tondela? Obviamente que não, porque na opinião de João capela, Bruno Monteiro nada mais fez do que atirar-se para o chão.



3. Doumbia no sítio certo à hora certa. O VAR não. – O remate de Coates é indefensável, mas Doumbia tapa a visão de Cláudio Ramos e está em fora de jogo, ou seja, tem influência no lance. Para que serve o VAR? Exatamente, para detetar e anular estes lances. A única desculpa que eu vejo aqui é que o VAR foi pago até aos 90 minutos e, aos 95 percebeu que o jogo duraria até o Sporting marcar, pelo que mais valia ir para casa.



4. Dois pesos e duas medidas – William Carvalho entra com a chuteira em Bruno Monteiro. João Capela não assinala falta. Coates tira a camisola depois de marcar. Não vê o amarelo que o tiraria do próximo jogo. Murillo (Tondela) pede explicações ao árbitro. Vermelho direto. Curioso.



O mais curioso de tudo foi ver alguns adeptos e dirigentes do Sporting que tinham achado vergonhosa a extra compensação no Belenenses x SL Benfica e no Moreirense x FC Porto a considerarem que tudo o que aconteceu na segunda-feira foi absolutamente normal.



Gostava seriamente de ver o que aconteceria se, ao minuto 98 tivesse sido o Tondela a marcar. Ou, melhor, se tivesse sido um jogo do SL Benfica e se a mesma situação pela qual o Sporting passou acontecesse com o tetracampeão. Continuaria a estar tudo bem?


FONTE: DABANCADA.COM