Opinião | Transferências: Leão Aposta Todas As Fichas, Dragão Tenta Equilibrar O Plantel E Águia Mantém A Postura

Nota introdutória
No artigo desta semana, proponho-me a analisar as principais transferências do último defeso no tocante a Sporting e FC Porto, fazendo uma posterior avaliação da postura mais contida do Benfica.


Sporting

Arrisco-me a dizer que, se não for esta época, com estas individualidades e com este investimento, o Sporting nunca será campeão com Jorge Jesus. Com efeito, o Leão nunca gastou tanto numa temporada em toda a sua história como nesta – já lá vão 46,76 milhões de euros, de acordo com o portal Transfermarkt. Ora, este elevado investimento denuncia, claramente, as ambições dos dirigentes verdes e brancos, que se recusam, por conseguinte, a ver o clube que lideram ficar mais um ano sem vencer um campeonato.

Assim, depois de um verão que ficou marcado pelas dispendiosas contratações de Bruno Fernandes e de Marcos Acuña – num total de 19,29 milhões de euros -, às quais acresceram as aquisições, entre outros, de Battaglia, Doumbia, Piccini e Mattheus, o clube de Alvalade voltou a abrir, no passado mês de janeiro, os cordões à bolsa, fazendo Wendel, promissor médio de 20 anos ex-Fluminense, atravessar o Atlântico, num negócio que se fez por 7 milhões de euros. Para além de Wendel, chegaram ainda, no último defeso, vindos de outros clubes do principal escalão do futebol nacional, Rúben Ribeiro (médio-ala, ex-Rio Ave, por 500 mil euros) e Lumor (lateral-esquerdo, ex-Portimonense, por 2,5 milhões de euros). De referir igualmente a chegada de Josip Mišić, este transferindo-se dos croatas do Rijeka a troco de 2 milhões de euros.

Se as contratações, por exemplo, de Bruno Fernandes ou de Acuña se concretizaram claramente no sentido de aumentar a qualidade do onze inicial, as aquisições, por exemplo, de Mišić ou de Lumor parecem efetuar-se mais no sentido de providenciar profundidade a um plantel que ainda se encontra na disputa de três competições (Taça de Portugal, Liga Europa e campeonato) até ao final da temporada. Com isto, Jorge Jesus poderá manter uma equipa fresca, mental e fisicamente, nas várias frentes, sem ser forçado a descurar o principal objetivo – o campeonato.

Veremos se este é o ano de afirmação de Jorge Jesus ou se, pelo contrário, o investimento leonino sairá frustrado. Feitos todos os balanços, há uma certeza: ao contrário de outras temporadas, o experiente técnico português não se pode queixar de falta de opções. As bases potenciais para um Sporting campeão nacional estão, assim, lançadas. Resta, portanto, ver se o aclamado Mestre da Tática tem unhas para esta guitarra ou, por outras palavras, que nos convocam para tempos passados e poucos felizes para o seu lado, mãos para este ferrari verde.

Wendel foi a mais sonante contratação do Sporting no passado mês de janeiro



FC Porto

Se incluirmos, tal como o portal Transfermarkt, os 20 milhões de euros relativos à transferência de Óliver Torres nas aquisições do Dragão em 2017/2018, será necessário recuarmos até 2012/2013 para encontrarmos valores de investimento tão humildes para os lados das Antas. Se não o fizermos, então, estaremos a falar do menor investimento na equipa profissional de futebol dos azuis e brancos desde 1998/1999, num comportamento, deste modo, claramente divergente daquele que vem sendo apresentado por um Sporting aparentemente bem financeiramente.

Obviamente, a quase ausência de investimento da SAD no plantel não resultou de vontade própria, mas antes da pouca saúde das suas contas, que a colocou na margem do incumprimento das regras do Fair Play financeiro estipuladas pela UEFA. Desta forma, num cenário de insuficiência para ir contratar ao exterior, os dirigentes do clube, a par de Sérgio Conceição e da sua equipa técnica, foram forçados a encontrar em casa as soluções para as maiores lacunas do plantel, fazendo regressar alguns atletas de empréstimo, de entre os quais Ricardo Pereira (ex-Nice) ou Vincent Aboubakar (ex-Beşiktaş), estratégia que, até ao momento, parece estar a resultar.

De facto, Conceição, menino da casa, tem sabido resgatar a alma do velho Porto, fazendo valer, muitas vezes, mais a técnica da força do que propriamente a força da técnica, algo que lhe vai valendo um ótimo campeonato, no qual o clube permanece, até ao momento invicto e com um registo quase 100% vitorioso em casa.

Naturalmente, o simples regresso dos jogadores emprestados e a manutenção de alguns futebolistas considerados essenciais nas fileiras do clube (como Felipe ou Danilo Pereira) não tem bastado para assegurar a profundidade do plantel, pelo que, no último defeso, o Dragão optou por aquisições low-cost, numa mesma lógica de permitir a frescura física e mental na exigente conjuntura de três competições em disputa. Estão em causa, portanto, as chegadas de Paulinho (ex-Portimonense), Majeed Waris (ex-Lorient) e Yordan Osorio (ex-Tondela).

Apesar de o plantel portista parecer mais equilibrado, não sei se será capaz, no seu conjunto, de dar a contundente resposta necessária na fase decisiva da temporada (março/abril). Bem, é esperar para ver. Efetivamente, Sérgio Conceição tem conseguido explorar o que de melhor os seus jogadores têm e pode perfeitamente ser o treinador capaz de recolocar o FC Porto no topo do futebol nacional.

Majeed Waris foi escolha de Sérgio Conceição e vem alargar as opções do ataque portista



Benfica

O Benfica parece ter incorrido no mesmo erro que os crónicos campeões acabam, em alguma altura do seu período hegemónico, por cometer. A atravessar o melhor momento da sua história no que ao futebol nacional diz respeito – os encarnados confirmaram, em maio de 2017, o seu primeiro tetracampeonato -, o clube pecou por displicência e excesso de confiança na preparação desta temporada, desinvestindo na equipa. Como dado ilustrativo deste investimento, saliento que, se quisermos recuperar uma época de semelhante retração, teremos de recuar até 2005/2006.

De facto, no último verão, saíram Ederson, Lindelöf, Nélson Semedo e Mitroglou e a SAD não deu a Rui Vitória jogadores com nível suficiente para os fazerem esquecer. O resultado foi a prematura e humilhante eliminação da Liga dos Campeões e as saídas, também elas condenáveis – sobretudo, na conjuntura em que se deram – das taças nacionais.

Este desinvestimento insere-se numa lógica de redução do passivo do clube – por sinal, o segundo maior da Europa, apenas batido pelo poderoso Manchester United – e de mudança de estratégia para uma aposta na formação (algo que se concretiza nas estreias de Bruno Varela, Rúben Dias, João Carvalho ou Diogo Gonçalves pela equipa principal). Até agora, a assertividade inerente às opções tomadas reveste-se, no mínimo, de grande dúvida, com os resultados na primeira parte da época a não serem, como analisado, nada favoráveis. As críticas ao modelo adotado pelo clube têm, contudo, baixado de tom com a recente mudança para um aparentemente mais profícuo sistema 4-3-3 e com a continuidade na luta pelo campeonato frente a um FC Porto e a um Sporting fortes.

Para terminar, devo referir que, não obstante o possível pentacampeonato, estou convicto de que a época foi mal planeada por parte dos responsáveis encarnados, que não foram, a meu ver, capazes de proteger Rui Vitória e o plantel. Pode ser que o Joga o Manel resulte e que o Benfica, milagrosamente, não se queime depois de arriscar colocar as mãos no fogo.