O Sporting está sem Bas Dost, mas podia ser pior. Podia estar sem Bruno Fernandes

Há um padrão comum ao jogo de quase todas as equipas portuguesas; genericamente, e isto é consensual, são cínicas e jogam para o pontinho, usando truques e armadilhas como a lesão fingida, as faltas pouco cirúrgicas, a discussão com o árbitro e a saída de campo com o passo demorado e pesado do homem que entra resignado na consulta de proctologia.

Nem o Sporting, nem o Portimonense são essas equipas. Pelo contrário, substituem a manha nacional pelo ideal do futebol bonito, o que chega a ser enternecedor por acontecer num ambiente por vezes rústico e pouco dado a argumentos como este: prefiro ganhar por 4-3 do que por 1-0. Algures na vida deles como treinadores, Keizer e Folha disseram igual ou parecido, e das palavras aos atos passamos, então, ao Sporting - Portimonense.

Logo no início se percebeu que nenhum dos treinadores ia abdicar do mantra ofensivo e portanto ia ser um jogo de ataque que logo nos primeiros minutos teve dois golos do Sporting. Aos 10' e aos 11', por Diaby e por Raphinha, que jogaram nas alas no apoio ao ex-serial killer Bas Dost, os de Alvalade adiantaram-se rapidamente no marcador, contrariando estatísticas, como a Goalpoint reproduz aqui em baixo.

Ora, os dois lances aconteceram por ação de Bruno Fernandes, e ainda que um deles tenha sido na marcação de um canto, a verdade é que o Portimonense estava a correr um risco fatal: deixar o médio do Sporting jogar à bola. Bruno, que antes disto já ensaiara um passe extraordinário para Raphinha, encontrava-se solto e feliz da vida, a organizar mentalmente cada posse de bola leonina; tudo levava a crer que o triunfo seria uma formalidade diante de uma equipa que foi uma coisa com Nakajima, e que tem sido outra sem ele, como atestam as seis derrotas (Marítimo, Chaves, Santa Clara, Rio Ave, Vitória SC), os dois empates (Braga e Aves) e a vitória com o Boavista. Num conjunto que não se importa de sofrer golos, é imprescindível ter alguém que os marque ou que os crie.

Só que o Sporting, como se disse lá atrás, não é particularmente consistente ou seguro a defender, acima de tudo quando vê os adversários a fugirem-lhe pelas costas – ou então quando os seus médios decidem disparatar. Do nada, o SCP afrouxou, perdeu o controlo das operações e Gudelj perdeu uma bola que resultou numa jogada bem feita e depois concluída por Paulinho. O brasileiro que não teve pernas para o FC Porto de Sérgio Conceição, chega perfeitamente para ser o xamã destes algarvios.

Foi ao minuto 30' e, posteriormente, o Sporting mergulhou definitivamente naquele estado anémico que o tem caraterizado. O jogo partiu-se inexplicavelmente, e sucederam-se lances de perigo nas duas balizas, embora as realmente perigosas tenham pertencido a corajoso Portimonense. Dois exemplos: a bomba de Lucas Fernandes à barra e o remate de Wellington Carvalho defendido por Renan.

Os leões tiveram uma chance, que Diaby desperdiçou, chutando contra um defesa, e ainda outra, por Bas Dost, que ocasionalmente se esquece dos instintos e de que é pago para marcar golos – e não para assistir fantasmas. Tal como eles, Dost é inexistente e por isso seria substituído por Luiz Phellype na segunda-parte. Na primeira, havia a registar isto: uma percentagem altíssima de passes acertados; o Portimonense somava oito remates dentro da área e o Sporting, sete; e o Portimonense só tinha cometido sete faltas contra oito do Sporting.

Resumindo, muito espaço, pouca ou nenhuma agressividade.

Depois do intervalo, Folha decidiu trocar o 2x1 pelo 1x2 no meio-campo, subiu as linhas e quis chegar ao empate, expondo-se ao perigo que as eventuais correrias de Raphinha e de Diaby poderiam causar. Só que o timing para isso já tinha passado e o Sporting reapareceu bem mais industrioso na cobertura e na procura dos espaços entre linhas, partindo mais seguro para as ocasiões que acabou por criar. Diaby e Bruno Fernandes falharam dois cabeceamentos aparentemente fáceis; depois, Diaby chutou às malhas e Bruno Fernandes para uma boa defesa de Ricardo. Quase no final, o inevitável Bruno Fernandes sofreu uma falta de Boa Morte dentro da área e o próprio encarregou-se de fazer o 3-1 com recurso a uma sugestiva paradinha.

O jogo terminou a seguir e o triunfo inquestionável do Sporting frente ao permeável Portimonense varreu para debaixo do tapete os problemas emocionais e as fragilidades defensivas da equipa de Keizer. E a evidente depressão futebolística de Bas Dost.


FONTE: TribunaExpresso