Sampaoli quebra o silêncio: «Já chega da loucura do 'se não ganhas és um falhado'»

orge Sampaoli foi um dos nomes mais visados no Mundial 2018. O antigo selecionador da Argentina viu-se envolvido em polémicas constantes quase desde o início da competição e a dificuldade gritante da formação latina em inverter o rumo dos acontecimentos acabou por agravar uma situação delicada.

A seleção das pampas caiu nos oitavos-de-final da prova, aos pés da vencedora França, depois de uma vitória sofrida na fase de grupos diante da Nigéria. Ora, a relação entre plantel e selecionador foi-se deteriorando com o passar do tempo e as reuniões divulgadas nos meios de comunicação geraram uma bola de neve de tal tamanho que terminou... com a demissão do líder.

Sampaoli foi despedido no passado mês de julho e, desde esse momento, optou por permanecer afastado dos holofotes. Em entrevista ao jornal Marca, a primeira desde que abandonou o conjunto argentino, o técnico começou por se justificar.

«Dediquei um tempo para analisar a minha estadia na seleção, para analisar a fase pós-Mundial. Necessitava desse momento de análise para esclarecer tudo com vista ao meu futuro», começou por dizer.

O ex-timoneiro do Sevilha reconheceu que «cada jogo era um sofrimento» muito por culpa da pressão em torno do grupo, mas garante que o trabalho foi bem feito.

«Para nós e para os jogadores já não se tratava de um simples jogo. Mas, atenção, isso deve-se ao grande compromisso que havia. Viajávamos para ver os jogadores, falávamos muito com eles. Foi um trabalho muito duro que não acabou por dar frutos porque só havia uma opção: ser Campeão do Mundo. E essa obrigação, antes de qualquer outra adversidade, tornou tudo mais difícil. Nunca pudemos desfrutar. A meta era sempre demasiado alta», acrescentou.

Sampaoli afirmou ainda que as reuniões tornadas públicas prejudicaram a «concentração da equipa», sendo que «a imediatez e a necessidade» de vencer tornaram a situação bem mais complexa. Essa obessão pelo sucesso, muito própria da sociedade argentina, não escapou das críticas do técnico.

«Tudo necessita de um processo (...). E os processos não se terminam, corrigem-se. Para o próximo Mundial ou Copa América é preciso ter em conta a organização, a confiança total e saber que tudo requere um processo. Ou seja, há que manter o processo e não terminar com ele. Já chega da loucura do 'se não ganhas és um falhado'. Não é assim que deve ser. Deve-se acreditar. Pode-se ganhar, ainda que seja mais tarde. Mas há que acreditar», reforçou.

Por fim, Jorge Sampaoli falou da complexidade de treinar um jogador como Lionel Messi.

«Ter o melhor do mundo na tua equipa obriga à máxima exigência. Temos de estar à altura dele. Mas às vezes consegue-se, outras vezes não. E estávamos nessa luta todos os dias. Ter o Leo obriga-te a não ter margem de erro na hora de vencer», finalizou.


FONTE: Zerozero.pt